<$BlogRSDUrl$> Meu humor atual - i*Eu

quarta-feira, julho 17, 2002

Nunca nos importamos com a dor dos outros. Só com a nossa. Sempre com a nossa. A dos outros é dos outros. Não dói, portanto. Nem a sentimos. Temos pena e a pena dispara o nosso agudo sentido de nos querermos úteis. Sem falhas nem remendos. Coreografias de sorrisos imaculados. Não se pode dar a dor a ninguém. Deixem de ser parvos.Hipócritas. Ninguém dá a dor aos outros. Cá de fora. Damos o que temos.
Descobri hoje que a fronteira entre a dor dos outros e a nossa é subitamente transparente. Uma linda. Linda. Lisa. Tão ténue e subtil que mal se vê. Nunca ganhei o prémio grande da lotaria. Só os outros. Só os outros. Não há linhas que nos separem da outra parte de nós. Partes que se partem. Ou partem de nós, o que é infinitamente pior. Prolongamento do nosso coração e do nosso corpo, recortado no outro, e não há nada que doa mais do que esta incapacidade de nos contagiarmos com a dor do outro. E não é pieguice.
Não pode ser. Nunca pode ser. Erraram os exames. Errar é humano. Os controladores aéreos também erram. E os engenheiros? Caem as pontes. E os aviões.
Não sei de ti. De repente, dexei de me importar. O sino das horas que escorrem. E param de tão brancas. Sosseguei. Sou o teu anjo da guarda. Aos anjos nada dói.Dizem que são feitos de seda. Deixei de me importar se era ficção ou real. Estavam tão próximos como a tua dor da minha. Linha. Linda. Lisa. Deixei de me importar. A não ser contar um por um todos os malmequeres daquele campo - só isso. Um por um. Devagar, na tu voz doce, inundada de luz. Mal me quer, bem me quer, muito,pouco ou nada. Vamos lá voltar. Vais ver que vamos. Bem me quer de luz. Luz que me quer de bem. Ainda nem sequer lá fomos. É tão cedo para nos irmos embora. «Tás parva? Falta metade do campo». Nunca mais acabo. Falta o campo todo. O campo todo de malmequeres. Ninguém te disse para acabares...Muito, pouco ou nada? Vá lá não percas tempo, os anjos não têm tempo a perder.

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