<$BlogRSDUrl$> Meu humor atual - i*Eu

sexta-feira, outubro 17, 2003

Para ti... 

Vencida, libertei-me. Não é um mau começo. Que não se entenda logo é natural, se é só o começo. Vencida, libertei-me. É o meu lema. Ou antes, passou a ser o meu lema quando o encontrei. É roubado, confesso, só não sei a quem. Peço perdão e não oiço ninguém. Fica tudo calado. É estranho como amo toda a gente e não amo ninguém. É sinal de que tenho de aprender tudo desde o começo.
E pergunto-me ás vezes por que é que não haverá uma religião que possa dizer minha. O Rui tem razão. A vida tem-me sido fácil. É que também não se pode escolher. A vida que temos, quero dizer. Não escolhemos as coordenadas onde aparecemos, nem a língua que passa por nós, nem o exemplo dos nossos pais, claro está. E ainda bem porque em geral escolhemos muito mal. O resto, que é só um bocadinho, isso sim. Um bocadinho não é bem, é uma atitude, digamos assim. Uma atitude escolhe-se. É que as coisas são como são, mas nós não. Não sei se me faço entender, nem sequer se tenho razão. É terrível ter-se razão. Mas devo ter.
A primeira coisa que me matou foi saber que também ia morrer. Ensinou-mo o Paulo ao preferir morrer. A segunda foi saber que a vida não é justa nem o pode ser, e o bom e o belo também só se mostram de quando em quando para logo depois desaparecerem. A terceira coisa que me fez morrer trouxe-me de novo aqui. Quando a consciência se apaga, o corpo apodrece e por fim, como poeticamente se diz, a terra acaba por comer todo o corpo, isto significa que, como tudo o resto, somos feitos de nada ou, pelo menos, que o nada é parte essencial do que se é. Mas também não quer dizer mais do que isto.

Vencida, libertei-me, é o meu lema. Ainda não se percebe, pois não? Encontrei-o hoje muito cedo de manhã. Se calhar não é coisa que se entenda. Há coisas assim. Eu, por exemplo, não entendo quase nada do que faço, quero dizer, como faço. Não sei como sei andar, quanto mais. E todas as noites adormeço e todas as manhãs acordo e nisto tem de haver um grande mistério. Mas não daqueles que estão á espera para se revelar. É só mais um mistério que se guarda, nada mais. É estranha a nossa ignorância. É que não é total e assim deita a esperança no sítio onde não vale a pena esperar. No meu caso qualquer esperança é rídicula. Não sei o que é que nos faz continuar a querer ajudar um bocadinho. Se calhar é uma palavra só, que se escreve com duas letras na minha língua e que nem gosto de dizer, quanto mais escrever.
Nós nunca sabemos o que vai acontecer, mas o que acontece não foge ao que esperamos, por mais imprevísivel. Num simples jogo de futebol há disto e é isto que o carrega de sentido. Em hora e meia, muitos, muitos juntos, vêem o que ninguém sabe como vai decorrer, um verdadeiro acontecer. Nem sei por que falo deste jogo popular se uma das coisas que menos entendo nos meus amigos é gostarem de futebol. É por causa do sentido que não está nas coisas mas em nós, se calhar é por isso.
É que hoje estive diante de um homem que morrer, mas não como nós que não sabemos quando. Disse-lhe algumas coisas e ele disse-me algumas coisas. Esteve sempre a sorrer. Dei-lhe dinheiro para dois massos de tabaco porque não tem dinheiro e emprestei-lhe dois livros porque sabe ler. Esteve sete anos na prisão e pediu-me desculpa por me ter mentido uma vez. Se eu fosse ele tinha mentido muito mais. Mas aceitei as desculpas. Os safados é que não têm perdão. São o óleo escorregadio na engrenagem que precisa de girar. Gosto desta imagem.
Queria ir dormir e não anoitece. É o tempo, não se lhe pode mexer, Outra coisa: também não vale a pena falar com quem nos está a enganar. Não se deve, enfim. O que oprime é o mundo, não o que está no mundo, creio eu. E renego tudo o que já disse, quero dizer, afirmo-o. A minha mãe faz bolos enqunto escrevo isto. É que há pessoas que te ajudam a viver e outras que ajudam a morrer.

A vida é hostil logo pela manhã. Que horas são? Onde estarei? A vida é boa e má e tudo. Queria escrever uma coisa e escrevi outra. É o melhor que me pode acontecer.


[ Não é nada de especial, muito pelo contrário. Nem me atrevo a reler. Deve carecer gravamente de sentido. Era só uma tentativa para te sentires melhor, para que saibas que também me sinto assim, demasiadas vezes. ]

quinta-feira, outubro 16, 2003

quando criei asas, voei. 

Porque nos desentendemos demasiadas vezes. Porque olhámos pelo canto do olho mais do que deviamos. Porque nos evitámos sempre. Sabe-se lá. Porque um dia me distraí e quando olhei para a minha mão tinha um coração feito por ti a caneta azul.
Porque te amei no primeiro minuto e em todos os outros a seguir. Porque o meu filho vai ter o teu nome. Porque quando sei que chegou a hora fico com um nó na garganta. Porque, sem ti, metade disto não faria sentido.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?